Muito interessante a coluna Futebol na Rede, na Folha OnLine
HUMBERTO PERON
24/07/2007
Crítica e opinião não são ofensas
HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online
Não passa em branco qualquer crítica ou opinião quando o assunto é futebol. Nenhum crítico, em qualquer área, é tão cobrado quanto o analista de futebol. A dificuldade em relação a outra áreas, como cultura e artes, por exemplo, é que quem escreve sobre futebol vai ter que encarar o criticado, frente a frente, num treino logo após fazer um comentário. Com todo respeito aos outros críticos, mas é muito raro um crítico de cinema encontrar um astro após opinar sobre um filme.
A grande dificuldade para falar de futebol no Brasil é que todos conhecem muito do assunto. Geralmente, quem pensa que tem pleno conhecimento de alguma coisa não admite que alguém tenha uma opinião contrária à sua.
Qualquer opinião dada gera repercussão --e atinge-- três grupos bem distintos. Desculpe, mais uma vez, os críticos de outras áreas --fato que não acontece em qualquer ramo de segmento de atividade. São eles:
Jogadores
Os jogadores costumam dizer que não têm o hábito de ler jornais ou assistir aos programas esportivos. No entanto, todos sabem o que é dito sobre eles. Até porque os que não gostam de ler são informados por aqueles que se julgam seus assessores. Os profissionais nunca concordam com as críticas que são feitas. Alguns fazem comentários de maneira velada, mandam indiretas no meio de entrevistas coletivas; outros se recusam a falar com quem emitiu uma crítica.
Algumas vezes, os jogadores costumam tirar suas diferenças com agressões. Os assessores --sempre eles--! se encarregam de isolar seu atleta do contato com quem o criticou --isso quando não tentam tomar as dores do jogador. Geralmente, essa birra acaba rapidamente e logo os jogadores voltam a atender quem os criticou.
Treinadores
Os críticos talvez sejam os principais culpados pela arrogância dos treinadores no trato com as opiniões contrárias. Nós últimos anos, começamos a dar muita importância ao trabalho dos treinadores. Alguns deles se acham semi-deuses. Atualmente, os técnicos não suportam ouvir críticas e já têm um arsenal de respostas prontas, todas arrogantes, para se defenderem dos ataques. "Eu treino a semana toda, então sei o que fazer", gostam de dizer os técnicos. Só que essa frase, no lugar de ser uma defesa, termina sendo uma brutal prova de incompetência, já que mesmo tendo todo esse tempo ele não foi capaz de encontrar um jeito de o time jogar bem.
Outra frase que mostra o quanto os técnicos não gostam de críticas é a seguinte: "Você viu outro jogo". Realmente, os críticos viram outra partida. Isso sem falar de quando os treinadores tentam mudar o foco da entrevistas e fazer com que todos se esqueçam de como eles trabalharam mal em determinadas partidas.
Como os jogadores, os treinadores adoram arranjar exemplos para tentar alfinetar os seus críticos. Até as "crianças de almas puras" são lembradas. Só que ao dar esse exemplo, o autor parece esquecer que "as crianças de almas puras" são os seres mais sinceros que existem. Se elas não gostam de algo, dizem na cara. Elas são muito difíceis de serem enganadas.
Torcedores
Não suportam ouvir críticas a seu clube e aos seus ídolos. Adoram classificar quem fala algo que ele não gosta como torcedor fanático do time rival --já fui chamado de simpatizante de mais de uns dez clubes diferentes. Sem dizer a leviandade de acusar cronistas de receberem dinheiro para criticar ou fazer elogios a deteminado time.
Geralmente, os torcedores amam ou odeiam as opiniões. Não existe meio termo. Não posso criticar essa categoria, pois o torcedor, muitas vezes, é movido pela paixão e ela nos cega e nos faz perder a razão.
No futebol, todos --jogadores, técnicos, dirigentes, torcedores e jornalistas-- aprenderiam mais se ouvissem críticas.
Até a próxima.
Crítica e opinião não são ofensas
HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online
Não passa em branco qualquer crítica ou opinião quando o assunto é futebol. Nenhum crítico, em qualquer área, é tão cobrado quanto o analista de futebol. A dificuldade em relação a outra áreas, como cultura e artes, por exemplo, é que quem escreve sobre futebol vai ter que encarar o criticado, frente a frente, num treino logo após fazer um comentário. Com todo respeito aos outros críticos, mas é muito raro um crítico de cinema encontrar um astro após opinar sobre um filme.
A grande dificuldade para falar de futebol no Brasil é que todos conhecem muito do assunto. Geralmente, quem pensa que tem pleno conhecimento de alguma coisa não admite que alguém tenha uma opinião contrária à sua.
Qualquer opinião dada gera repercussão --e atinge-- três grupos bem distintos. Desculpe, mais uma vez, os críticos de outras áreas --fato que não acontece em qualquer ramo de segmento de atividade. São eles:
Jogadores
Os jogadores costumam dizer que não têm o hábito de ler jornais ou assistir aos programas esportivos. No entanto, todos sabem o que é dito sobre eles. Até porque os que não gostam de ler são informados por aqueles que se julgam seus assessores. Os profissionais nunca concordam com as críticas que são feitas. Alguns fazem comentários de maneira velada, mandam indiretas no meio de entrevistas coletivas; outros se recusam a falar com quem emitiu uma crítica.
Algumas vezes, os jogadores costumam tirar suas diferenças com agressões. Os assessores --sempre eles--! se encarregam de isolar seu atleta do contato com quem o criticou --isso quando não tentam tomar as dores do jogador. Geralmente, essa birra acaba rapidamente e logo os jogadores voltam a atender quem os criticou.
Treinadores
Os críticos talvez sejam os principais culpados pela arrogância dos treinadores no trato com as opiniões contrárias. Nós últimos anos, começamos a dar muita importância ao trabalho dos treinadores. Alguns deles se acham semi-deuses. Atualmente, os técnicos não suportam ouvir críticas e já têm um arsenal de respostas prontas, todas arrogantes, para se defenderem dos ataques. "Eu treino a semana toda, então sei o que fazer", gostam de dizer os técnicos. Só que essa frase, no lugar de ser uma defesa, termina sendo uma brutal prova de incompetência, já que mesmo tendo todo esse tempo ele não foi capaz de encontrar um jeito de o time jogar bem.
Outra frase que mostra o quanto os técnicos não gostam de críticas é a seguinte: "Você viu outro jogo". Realmente, os críticos viram outra partida. Isso sem falar de quando os treinadores tentam mudar o foco da entrevistas e fazer com que todos se esqueçam de como eles trabalharam mal em determinadas partidas.
Como os jogadores, os treinadores adoram arranjar exemplos para tentar alfinetar os seus críticos. Até as "crianças de almas puras" são lembradas. Só que ao dar esse exemplo, o autor parece esquecer que "as crianças de almas puras" são os seres mais sinceros que existem. Se elas não gostam de algo, dizem na cara. Elas são muito difíceis de serem enganadas.
Torcedores
Não suportam ouvir críticas a seu clube e aos seus ídolos. Adoram classificar quem fala algo que ele não gosta como torcedor fanático do time rival --já fui chamado de simpatizante de mais de uns dez clubes diferentes. Sem dizer a leviandade de acusar cronistas de receberem dinheiro para criticar ou fazer elogios a deteminado time.
Geralmente, os torcedores amam ou odeiam as opiniões. Não existe meio termo. Não posso criticar essa categoria, pois o torcedor, muitas vezes, é movido pela paixão e ela nos cega e nos faz perder a razão.
No futebol, todos --jogadores, técnicos, dirigentes, torcedores e jornalistas-- aprenderiam mais se ouvissem críticas.
Até a próxima.
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